Before I Forget é um jogo muito interessante do estúdio 3-Fold Games, formado por apenas duas mulheres que escolheram se dedicar a criar jogos com histórias a partir de perspectivas sub-representadas, dando voz a grupos que, normalmente, não estão presentes em narrativas de jogos.
Se trata de um jogo que me toca em locais muito pessoais. Para além de vários gatilhos de medos pessoais que o jogo aborda, meu avô tem alzheimer e isso é importantíssimo para a minha relação com a história do jogo, que traz a temática de forma tristemente linda. Sunita está sozinha numa casa, uma mulher com alzheimer, que está desesperada atrás de suas lembranças. É preciso explorar cada quarto e cada objeto para tentar descobrir pequenos fragmentos da história e tentar montar o quebra cabeça da vida dessa mulher incrível e do seu querido marido.
Logo de cara ficou claro que eu precisava comentar sobre o quanto o estilo de arte é lindo e como suas formas em aquarela compõe de forma incrível o rumo da história. As cores dão forma ao objeto junto a memória. Toda a arte do jogo foi pensada nos mínimos detalhes, com muito cuidado e carinho e eu achei isso incrível, nunca tinha visto um jogo dessa forma antes e achei simplesmente perfeito.
O jogo toca no assunto de forma sutil e cuidadosa, com uma compreensão muito delicada em relação ao que as pessoas que sofrem dessas condições (demência ou alzheimer) passam. Com um performance discreta, bem fundamentada e verossímil, com as observações, memórias e medos de Sunita sempre te atraindo para os acontecimentos. Existem também alguns puzzles extremamente simples para serem resolvidos para além da exploração de interação com objetos.
Nós quisemos fazer uma obra sobre uma pessoa com uma história pouco vista entre os jogos — Chella Ramanan
Enfim, ele foi lançado em julho de 2021 e eu joguei ainda na pandemia, mesmo assim, voltando para ele agora, sinto como se fosse a primeira vez. "Uma história sobre mistério e amor" talvez seja a frase que melhor o resume. Ele é delicado, simples e emocionante. Você mergulha e se envolve na história num nível que só um jogo é capaz de proporcionar. Você pode ver um filme ou ler um livro sobre o assunto, mas nunca vai SER Sunita.
Viver e (quase) sentir as frustrações e desejos... a angústia de não encontrar as próprias lembranças, de sentir aquela dor como se fosse a primeira vez. É um nível de imersão surreal e encantador.
A trilha sonora é tocante e, como tudo no jogo, muito bem encaixada em tudo que está acontecendo. Há momentos no jogo em que está quase tudo em silêncio, podendo ouvir somente as interações que você faz com os objetos, mas isso se torna mais impactante quando um piano começa a tocar de fundo. Realmente, deve-se seguir a recomendação de jogar com fones de ouvido.
Entendo alguns feedbacks que dizem sobre o jogo ser clichê, mas para mim ele é muito mais que isso. Talvez o “plot” seja um pouco óbvio, mas o importante é o caminho até lá… Brutal. Não tenho mais o que dizer, apenas JOGUEM.
Dica da Thais: O jogo pode ser jogado com os comentários das desenvolvedoras ligado, recomendo para quando for jogar pela segunda vez.
Caso tenham interesse na entrevista que elas deram sobre a indicação do jogo ao BAFTA Games Awards (British Academy Games Awards, uma cerimônia anual de premiação britânica que homenageia a excelência em realização criativa na indústria de jogos eletrônicos), falam um pouco sobre o desenvolvimento do jogo, como o estúdio surgiu e alguns outros tópicos que achei interessante, aqui está o link: The Origins Of BAFTA-Nominated 'Before I Forget' And Its Approach To Dementia | Nintendo Life
Texto editado e revisado por Maya Souza (@ShinMayanese).
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