The Beginner’s Guide conversa sobre Wreden, nos apresentando o trabalho de outro game designer, um amigo que ele admira bastante. Seu nome é Coda, ele sempre começa a desenvolver um jogo e o abandona antes de terminar Wreden. Querendo incentivar o seu amigo a voltar a desenvolver, faz um apanhando com todos os jogos de Coda em ordem cronológica e tenta desvendar o que o seu amigo passou através disso.
É um jogo mais contemplativo, a interação me parece mais uma consequência da narrativa do que o contrário. Durante toda a experiência somos apresentados a versão de Coda ditada pelo Wreden, o que nos faz chegar no perigo da história. Nós, jogadores, somos influenciados a pensar que estamos conhecendo o Coda cada vez melhor, mas a grande virada de chave é quando entendemos que estamos vendo muito mais sobre o Wreden do que de seu amigo. Ele quer tanto encontrar significado nas criações de Coda que cai num limbo de dúvidas e paranoia.
Esse jogo foi uma experiência muito doida porque eu sou muito assim, tento desvendar tudo e achar pequenos detalhes para fazer grandes análises sobre as coisas, sem ver o outro lado, sem perguntar. Muitas vezes isso cria um conflito nas minhas relações interpessoais, porque, baseado em nada (vozes da minha cabeça) eu assumo que a pessoa está chateada ou querendo dizer outra coisa e ao invés de (simplesmente) perguntar, eu acredito em mim e me seguro aquilo. É muito parecido que o Wreden faz com o Coda, ele não sabe o que está — e se está — acontecendo alguma coisa, ele simplesmente tira suas conclusões e assume que está certo.
Pior, ele tenta te convencer disso também. A condução dele nunca te deixa pensando “ok… isso pode simplesmente não significar nada” porque ele está sempre sugerindo que existe alguma coisa por trás. É engraçado pensar que um joguinho de 1h30min poderia te fazer refletir sobre isso. Estamos a todo momento sendo bombardeados com as visões e opiniões do Wreden sobre o que está acontecendo com Coda e como ele está se sentindo, tudo isso a partir de pedaços dos jogos que ele começa a desenvolver e “não termina”.
Eu tive a impressão de que o Wreden estava lendo minha mente, sempre que eu pensava que estava finalmente entendendo o jogo, ele trazia algum comentário para contradizer tudo, sempre me fazendo questionar meu lugar como player. É aquela velha discussão de não tentar desvendar o jogo, apenas… jogar. Deixar acontecer a experiência, com muitas perguntas que ele também não sabia das respostas.
É exatamente nesse ponto que você percebe o plot twist, todos esses jogos de Coda nunca deveriam ser expostos e Wreden se sente mal com isso, mas ele não consegue parar, se tornou uma relação obsessiva. Ele precisa tanto encontrar algum significado e descobrir pequenos detalhes que os outros não estão vendo que acaba refletindo a si mesmo nas suas próprias análises.
Eu pesquisei algumas reviews e, apesar de ver muita gente falando que é um jogo sobre uma luta de validação criativa, eu não penso sobre esse viés. Também não acho que é um jogo sobre nada, mesmo que não tenha um objetivo ou metas (segundo sua própria sinopse), é um jogo que traz inúmeras reflexões, não só sobre o que eu já trouxe aqui, mas sobre uma dúvida de um significado profundo dos jogos.
The Beginner’s Guide é uma obra de arte, um jogo incrível que te faz querer repensar sua relação com jogos e, quem sabe, com as pessoas. Eu recomendo, mas vale a pena ver se é o estilo de jogo que você iria achar interessante antes de tentar.
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