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Marvel's Midnight Suns é desastroso — Análise

Atualizado: 1 de out. de 2023


Heróis de Marvel's Midnight Suns em pose de combate
Marvel's Midnight Suns | Reprodução: Firaxis Games
INTRODUÇÃO

Quem vos fala nesse momento é um fã de longa data dos heróis pitorescos dos quadrinhos. Infelizmente não é possível, para mim, acompanhar todas as aventuras dos meus personagens favoritos por conta de diversas demandas do cotidiano mas, sempre que possível, acompanho os assuntos do momento.


É por esse motivo que eu vibrei muito com o anúncio de Marvel’s Midnight Suns, mesmo sendo um jogo de estratégia, gênero com o qual não tenho muito contato. Eu acreditava que o tamanho da marca Marvel e o projeto sendo encabeçado pela Firaxis Games significaria que não veríamos nada mais, nada menos, do que um excelente jogo tático.


Apesar do ditado “quem apanha nunca esquece”, acabei esquecendo com o tempo a surra que foi Marvel’s Avengers, da Square Enix, e acabei me decepcionando em proporções similares com Marvel’s Midnight Suns. O porquê disso? Confira na análise a seguir.



ENREDO E CONTEXTUALIZAÇÃO

Marvel’s Midnight Suns tenta trazer para o mundo dos jogos uma história original baseada no renascimento da feiticeira demônio Lilith através do cientista Doutor Faustus, integrante da H.I.D.R.A., organização alemã que remonta os estereótipos nazistas de dominação. Faustus pretende utilizar os poderes de Lilith para manipular vilões e heróis do universo da Marvel e consequentemente conquistar o mundo. No jogo, nós assumimos o papel de Hunter, filho e assassino de Lilith no passado, ressuscitado pelos heróis a fim de tentar frustrar os planos do Doutor Faustus.


À título de contextualização, nos quadrinhos, os Filhos da Meia Noite são personagens conhecidos e extremamente amados pelo público justamente por protagonizarem espetaculares três eras de histórias sombrias que começaram lá nos anos 90.


As tramas em volta de Lilith e sua família, que podemos parafrasear com as intrigas familiares entre os Belmont e a trupe de Drácula em Castlevania, trouxe para os holofotes diversos anti-heróis como o vampiro Blade, Hannibal King, Morbius, os Motoqueiros Fantasma Danny Ketch e Johnny Blaze, Hellstrom, Cavaleiro da Lua, Homem-Coisa, Punho de Ferro, Demolidor e Justiceiro. Se você está antenado na mídia vizinha, sabe que muitos desses nomes já tem o seu pano de fundo estabelecido em séries e filmes produzidos pela Marvel, e a volta desses heróis para o mainstream, seja através de um jogo ou união dos personagens em filme é algo que vinha sendo teorizado e desejado há muito tempo pelos fãs dos quadrinhos.


Capa de uma das edições da Marvel Comics Midnight Suns Unlimited (1994)
Marvel Comics Midnight Suns Unlimited (1994)

Diante da qualidade histórica dos quadrinhos, Midnight Suns tinha tudo para ser uma das melhores adaptações, com uma história no mínimo bem estruturada, principalmente se considerarmos que a Firaxis Games esteve à frente de grandes produções de jogos de estratégia como Xcom e Civilization. Ainda que esses jogos nunca tenham sido referências em enredo, ambos entregavam o mínimo para compensar a gameplay estratégica maravilhosa. Infelizmente, o último lançamento foi, literalmente, um desastre.



NARRATIVA

O primeiro defeito gritante de Marvel’s Midnight Suns se dá pelo fato de que o avanço dos eventos depende de um sistema de RPG de construção de relacionamento aterrorizante. As estruturas escolhidas pelos desenvolvedores para reproduzir os heróis da Marvel só conseguiam me causar repulsa por cada um deles.

O jogo é uma catarse de animações low budget (baixo orçamento) e bonecos totalmente inexpressivos. A escrita dos diálogos é horrorosa e a maior parte deles é puro constrangimento. Nunca pensei que uma das atividades principais em um jogo dos Filhos da Meia Noite seria ficar jogando baralho com Blade, enquanto ele tenta me transformar em um correio elegante para flertar com a Capitã Marvel.


E não é como se tivéssemos muita opção. Além de não ser possível pular as cutscenes, as interações são necessárias para evoluirmos o relacionamento com os personagens que integram a nossa party e, consequentemente, liberar novas cartas para o nosso deck, além de customizações dos uniformes. Para piorar, o nosso personagem é um narcisista dotado de um ar irreverente e pueril. Controlá-lo significa pisar em ovos a todo o momento para não falar nenhuma besteira e perder pontos de amizade com os heróis.

Basicamente, esperávamos uma narrativa digna de engrandecimento das histórias contadas anteriormente nos quadrinhos ou quem sabe até mesmo um pontapé para o universo televisivo, e o que recebemos foi algo desanimador em diversos aspectos.



GAMEPLAY

Midnight Suns é um jogo de estratégia por turno onde os movimentos e habilidades especiais dos seus personagens se dão através de cartas compradas no início de cada rodada. Os poderes variam entre cartas de ataque, defesa, recuperação de vida e aplicação de efeitos benéficos para o seu time e maléficos para os inimigos.


Captura de tela da Gameplay de Marvel's Midnight Suns
Gameplay Marvel's Midnight Suns | Reprodução: Firaxis Games

A mecânica de movimentação lembra muito XCOM, porém, em proporções reduzidas. O espaço dentro das fases é extremamente pequeno, o que torna o combate exaustivamente repetitivo. Também existem algumas estruturas que podem ser utilizadas para atacar os inimigos sem consumir ações de movimento ou de cartas.


Para utilizar cartas normais de ataque, defesa, recuperação de vida e aplicação de condições o jogador necessita de pontos que funcionam como mana e que aumentam gradativamente a cada rodada. Cada uma das cartas possuem um indicativo de quantos pontos são necessários para sua utilização, enquanto as cartas de ataque especiais necessitam de pontos heroicos que se acumulam ao utilizarmos as demais. Apesar da repetitividade, a mecânica é algo que se sustenta decentemente, uma das poucas coisas positivas dentro do jogo. Infelizmente, mais da metade se passa em momentos de diálogo e exploração do universo de Midnight Suns.


Cartas do jogo Marvel's Midnight Suns
Cartas Marvel's Midnight Suns | Reprodução: Firaxis Games

Explorar o universo do jogo é uma tarefa extremamente limitada quando combinamos a superlotação de paredes invisíveis, bugs visuais, poluição do hud com informações desnecessárias e missões repetitivas cujas recompensas poderiam ser facilmente atribuídas ao final de cada combate, a fim de poupar o jogador do emprego de ficar abrindo baús e coletando fragmentos para evoluir as cartas com Blade. Não bastasse o apontado, o jogo ainda conta com gacha em abertura de cápsulas que podem levar um dia inteiro para serem abertas.

Somadas com os gráficos de uma engine arcaica, a gameplay, narrativa e exploração me fazem pensar que o jogo inicialmente estava sendo planejado para ser lançado em dispositivos móveis, não em consoles, e mesmo assim não seria um título relevante para a plataforma.



RESUMO

A Firaxis Games tinha a faca e o queijo na mão: um enredo praticamente pronto e a licença para trabalhar com os maiores nomes do universo geek da atualidade. Sem nenhuma explicação plausível, Marvel’s Midnight Suns não conseguiu chegar nem perto da proposta apresentada nos conteúdos promocionais do jogo e se tornou um dos maiores fiascos de 2022.


Bastava uma escolha diferente de narrativa ou um carinho melhor com os diálogos e animações que já teríamos um jogo totalmente diferente. Os combates estão bem feitos, apesar da simplicidade, mas é só isso. Se o problema era investimento para apresentar animações melhores, o que aparenta ser o real problema, bastava que a Firaxis se lembrasse que nem tudo precisa ser feito em CGI (alô, Marvel Snap).


Por todos esses motivos, e diante das decepções que se reprisam, só me resta, como um bom fã, continuar torcendo pela ascensão iminente dos Filhos da Meia Noite no universo cinematográfico da Marvel, já que nos videogames a experiência se consolidou como algo totalmente insalubre e esquecível.


*Agradecemos gentilmente à 2K pelo envio da chave de Marvel's Midnight Suns.

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