Brasil Game Show 2025: Entrevista com André "Sid" Osna, desenvolvedor do pandemicpunk Crow's Requiem!
- Max Fernandes
- há 5 horas
- 5 min de leitura

Na BGS de 2025, pudemos testar Crow’s Requiem, um jogo desenvolvido pela Ex Ignorantia e com lançamento previsto para 2026. No jogo, você controla um corvo, um agente do estado que recolhe os corpos de pessoas que morreram da infecção que assola o mundo distópico onde a história se passa.
Além do teste, também conversamos com André “Sid” Osna, desenvolvedor-chefe e romancista que nos recebeu para uma rápida conversa sobre seu projeto, sobre a pandemia e sobre estética. Confira abaixo:
PRA COMEÇAR, ESTAMOS APAIXONADOS PELA ARTE DO JOGO. TÁ MUITO BONITO MESMO. MINHA PERGUNTA É: QUAIS FORAM AS INSPIRAÇÕES DE VOCÊS PARA CONSTRUIR A IDENTIDADE VISUAL DO JOGO?
Sid: É até difícil em falar de inspirações. O Isaac Santos é o artista por trás, um cara que já trabalhou com Netflix, já trabalhou com Disney Channel, amigão nosso de longa data. A conversa com ele foi muita troca por meses, porque a gente se propôs a entender “o que é pandemicpunk”. Foi um processo com a música, com os cenários, um processo artístico em geral. Se a gente queria “criar” um tema, um gênero, o ideal é que a gente fizesse uma coisa que fosse identificável por si só.
Foi um trabalho que... o termo que mais pensamos é “vivido”. É um mundo vivido, onde o tempo parece estar girando em ciclos, como era na pandemia, há décadas nesse caso. A nossa ideia era algo que tivesse certas características únicas, certas características de roupa, quando [a roupa] tem botão ou não tem botão, quando é amarrado ou não é amarrado, mas realmente onde tudo pareça um pouquinho sujo, um pouquinho gasto, um pouquinho riscado. Acho que a busca não foi tanto nas referências, foi mais “o que pra nós é pandemicpunk”. A resposta que a gente chegou, e fico feliz que você curtiu (risos), é o que vocês estão vendo no jogo.
Realmente, tá muito bom. como vocês falaram sobre a conceitualização do pandemicpunk, essa é justamente a próxima pergunta. eu queria entender o que vocês querem dizer com isso. eu fiz a lição de casa e descobri que pandemicpunk era uma zine e achei muito legal, mas queria que vocês definissem pra gente o que é exatamente essa estética.
Sid: O mínimo de background é: no final da pandemia, comecei a escrever um livro chamado “Evangelho dos Corvos”, que hoje em dia está terminado e guardado, mas foi a base do jogo. Como surgiu durante a pandemia, eu tinha muito para processar. Todos nós tínhamos muito para processar. Eu acho que a humanidade processa trauma com arte, é a única forma. É por isso que fazemos filmes de Segunda Guerra até hoje. É por isso que a gente faz filmes de momentos tão traumáticos, é por isso que existem gêneros inteiros baseados em desastre natural. Uma hora a gente vai ter que parar e processar a pandemia, para entendermos quem nós somos depois dela e por causa dela.

Eu acredito que demos um primeiro passo nessa direção. Você que acabou de jogar, você viu, é um jogo sobre escolhas, sobre o risco de tudo que você faz, que era uma sensação da pandemia. Era essa coisa do “se eu pisar para fora do jeito errado, sem uma máscara, tudo vai dar errado.” Ou seja, é uma fragilidade da vida durante uma pandemia a base temática do jogo, mas também é, pra mim, um lembrete.
Acho que estamos esquecendo rápido da pandemia, e eu sou um defensor que vivemos na melhor timeline possível, porque a gente venceu a pandemia. Em quase todas as timelines do universo a gente perdeu pra ela, a gente estava indo naquela direção do descontrole, da quebra social, da quebra e ritos funerários, de ritos sociais, e eu acho que o jogo está aqui pra lembrar um pouquinho.
É óbvio que é botar muito ar na minha bomba dizer que é um aviso, mas parte do jogo é também lembrar que nós vivemos na melhor timeline, e que se deixarmos acontecer de novo, talvez não tenhamos a mesma sorte duas vezes.
Quando eu vi o pandemicpunk, fiquei pensando muito em PatholOGic e como ele parece ser um mundo sem esperança. é essa a mensagem que vocês querem passar, aquilo que vocês querem discutir, ou se existe uma luz no fim do túnel nessa história?
Sid: Eu acho que a luz no fim do túnel é, potencialmente, você. Ou o prego final, é você. O que você é pra esse mundo? Você vai ser a luz, você vai ser a razão, você vai ser o “listerer crow”, que está disposto a aprender e quer tirar o melhor das pessoas, tentar unir, ser criativo sobre isso, ou você é um “whisper”, você vai dizer o que você precisa dizer e f*%$-ˆ& a moral, ou você é um “enforcer” que vai deixar as situações piores ainda porque essa é sua vontade, então quem é você vai definir se o jogo é positivo ou não.
Mas, como a pandemia, partimos de um lugar difícil, escuro, triste. O que você faz com isso é como nos sobrevivemos à pandemia. A gente sobreviveu assim, decidindo se você era positivo, negativo ou neutro, se você ia trazer a tona o melhor das pessoas ou o pior, e eu gosto de acreditar que o jogo vai permitir que você se expresse dessa maneira.
Você é de são paulo? a minha pergunta é: olhando o cenário do pandemicpunk, você acha o visual da cidade de sp reconhecível, parecido?
Sid: Curitiba. Cara, eu vou falar que tem muita coisa no jogo que vem da minha percepção de lá. O jogo se passa em Nova Horizonte, que já apareceu nos nossos RPGs como uma cidade anômala, já apareceu em dois dos meus romances. É a minha Salem`s Lot e Castle Rock (cidades de livros do Stephen King). Muito dela é Curitiba. Tem um apego com o brutalismo e o utilitarismo dos anos 50. Hospitais e prédios governamentais são muito assim. Eu acho um visual meio distópico, essa coisa concretada, grande, quase soviética. Curitiba tem muito disso e São Paulo também. Não sei se os outros veem, mas eu vejo.
E tem algo de América Latina, eu acho. A gente não é só tropicaliente, a gente tem esse utilitarismo dos anos 50, a gente tem uma história de monumentos de concreto. Curitiba tem o museu do olho que é basicamente um olho gigante, e acho que isso é brasileiro também, também é exportável essa nossa estética, que não é melhor ou pior, só diferente. A gente é tão múltiplo e nem tudo precisa ser tropical.
Entrevista realizada e redigida por Max Fernandes e editado por Emílio Júlio e Maya Souza.
Você também pode gostar de: "Brasil Game Show 2025: Hideo Kojima está de volta!", de Iara Vilela
Já pensou em fazer parte do no nosso grupo do Discord? Lá temos vários eventos, materiais de estudo e uma comunidade incrível esperando por você. É só clicar aqui!
Siga o Game Design Hub nas redes sociais!