
A primeira coisa que me vem à cabeça ao ver um jogo que quero jogar é: quanto tempo eu tenho para isso? Não, eu não penso primeiro no tamanho do jogo, se a gameplay é no estilo que eu gosto ou se gênero me agrada. Meu foco inicial é sempre pensar no tempo. Pode parecer um pensamento aleatório vindo de uma mente que não para por conta da ansiedade, mas na realidade, além disso, é uma coisa que realmente preciso pensar. E acredito que todos que tem uma rotina pesada também pensam.
Trabalhar, cuidar da casa, dos pets, se atualizar, estudar, dormir e recomeçar. Esse é um breve retrato do meu dia a dia. Passo o dia inteiro no trabalho sem saber a hora de voltar para casa, pois uma demanda inesperada pode me prender até as 21h, com a obrigação de estar em outro lugar às 7h do dia seguinte.
Quando finalmente chego em casa, ainda preciso pensar na janta (e no almoço do dia seguinte), tomar banho, cuidar da minha saúde física e mental – que está em apuros – e encontrar tempo para conversar com meu namorado e minha irmã. Isso sem esquecer de colocar a máquina de lavar para funcionar, limpar o chão que os pets sujaram e lavar a louça. Provavelmente esqueci de algo importante que eu devia fazer.
MAS Como encontrar tempo para jogar?

Um fenômeno curioso que vejo nas redes sociais é o movimento de "quantos jogos zerei este ano" ou "minha meta de jogos". Um conceito que parece ter sido emprestado de leitores vorazes e cinéfilos apaixonados. Não é uma crítica, de forma alguma. Mas confesso que não consigo entender essa obsessão por números, platinas e conquistas. Eu amo videogames e adoraria fazer disso o centro da minha vida. Porém, minha rotina de trabalho e as demandas de uma vida doméstica não me permitem sonhar tão alto.
Sei que não estou sozinha na falta de tempo. Dados da MIDiA Research* mostram que gamers dedicam, em média, 7,4 horas por semana jogando e 8,5 horas consumindo vídeos relacionados ao universo gamer. Isso equivale a aproximadamente uma hora diária para jogar. O mercado de entretenimento voltado para videogames, além de muito caro, exige algo ainda mais valioso: tempo. Tempo para acompanhar lançamentos, completar missões diárias ou simplesmente aproveitar um jogo com calma. Planejar esse tempo faz parte da vida de muitos que, como eu, sacrificam momentos de outras atividades para desfrutar um pouco do lazer que o capitalismo ainda nos permite.
Para escrever este texto sobre minha falta de tempo para jogar, perdi parte do meu horário de almoço – que costumo usar para jogar um pouquinho enquanto como a minha marmita em tempo recorde. Para revisar e finalizar, provavelmente terei que sacrificar parte do meu sono ou do tempo dedicado à minha jogatina de Indiana Jones – um jogo que estou tentando finalizar há quase um mês.
Esse texto não é apenas um desabafo sobre como a rotina exaustiva, combinada com as cobranças das redes sociais, pode acabar com a experiência de jogar. É também um abraço acolhedor para você – sim, você – que, assim como eu, se sente mal por não conseguir finalizar nenhum jogo ou por abandonar aquilo que começou. Jogar videogame não deveria ser mais uma tarefa em uma lista interminável de afazeres. É um momento para relaxar, explorar mundos imaginários e, acima de tudo, se divertir. O importante é lembrar que você joga porque gosta, não porque precisa atingir metas impostas por outros.
*Os dados da pesquisa são da pesquisa de consumidores da MIDiA Research do segundo trimestre de 2024 e 2023, realizada nos EUA, Reino Unido, Austrália, Canadá, Alemanha, França, Suécia, Coreia do Sul e Brasil.
Texto revisado por Gabriel Morais de Oliveira, editado por Maya Souza.
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