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Foto do escritorGabriel Morais Oliveira

Estamos produzindo um documentário sobre desenvolvedores de jogos amapaenses e a Expofeira Amapá 2024

No dia 27 de agosto, eu chegava com Lucas Souza, diretor de audiovisual do GDH, em Macapá, capital do Estado do Amapá. Meses antes, fomos convidados pela Federação Amapaense de Esportes Eletrônicos (FEAPEE) para fazer a cobertura jornalística do estande de exposição de jogos dentro da 53ª Expofeira, motivo pelo qual voamos mais de 3,3 mil quilômetros em direção ao extremo norte do país.


A Expofeira, para quem não conhece, é uma feira de exposições realizada em diversos municípios e comumente organizada pelo Governo Estadual. No Amapá, seu foco reside em soluções ambientais, tecnologia e, principalmente, cultura, com shows gratuitos e picos de movimentação de mais de 150 mil pessoas. A 53ª edição, a segunda após um hiato de 8 anos, aconteceu entre os dias 29 de agosto e 8 de setembro, movimentando mais de 1 bilhão de reais, contemplando 512 artistas em 18 segmentos culturais, além de disponibilizar estandes para exposições de artesanatos e inovações tecnológicas.


A novidade é que, desde o ano passado (2023), a feira conta também com um estande da Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia (SETEC), no pavilhão da inovação, exclusivo para a apresentação de jogos independentes amapaenses e campeonatos de eSports com premiação. Um avanço sublime na inserção dos jogos como parte da cultura e lazer local de um Estado tão isolado do cenário brasileiro de jogos.


Com o apoio da Secretaria de Cultura do Estado do Amapá (SECULT), da SETEC e da FEAPEE, entrevistamos artistas e desenvolvedores de jogos locais e de outras regiões, como Curitiba, São Paulo e Rio Grande do Norte, produzindo um material que em breve será disponibilizado em formato de documentário. A seguir, você confere um breve resumo de como foi a nossa experiência durante a 53ª Expofeira.


O Amapá

Quando nos foi proposta a ideia de fazer um registro sobre jogos no Amapá, sugeri a Lucas Souza (editor de audiovisual) que fizéssemos um documentário da experiência. Sem a mínima ideia do impacto que a viagem me causaria, eu já estava seduzido pela ideia de poder falar sobre algo que está ali, revelado, mas que não chega até nós, seja por motivos de interesse, financeiros ou por barreiras de distância.


De início, já nos deparamos com informações como o fato de o Amapá ser o único Estado que não tem uma comunidade de desenvolvedores de jogos institucionalizada (Fonte: Pesquisa Abragames 2023). Então, como falar sobre um cenário independente de jogos do qual não conhecíamos e sobre o qual tínhamos quase nenhuma informação?


Antes de tudo, eu queria conhecer onde estávamos. A cultura. Quem eram as pessoas que estavam ali, entender o que motivava seus desenvolvedores a criar jogos e, durante esse processo, estudar as trocas de conhecimento entre desenvolvedores de outros Estados, que também foram convidados a apresentar suas obras. Era quase uma forma literal de intercâmbio. E as coisas saíram muito melhores do que poderíamos imaginar.


Joãozinho Gomes e Enrico di Miceli

Quando expressamos a vontade de abrir nossa narrativa contando sobre a importância e relevância cultural do Amapá, nos sugeriram uma conversa com duas figuras ilustres da poesia e música local. A primeira delas, também conhecida como o "Poeta do Amapá", nos atendeu de prontidão.


Joãozinho Gomes é poeta, mas também letrista e compositor brasileiro, além de ser uma figura carregada de carisma. Contou como abraçou a alcunha de poeta amapaense, após 33 anos acolhido pela terra do marabaixo. Foi uma conversa sublime, cheia de sorrisos e críticas que validam a tecnologia como instrumento de cultura, desde que tenha a participação humana. Ao final, fomos abençoados com a esperança do poeta em ver as próximas gerações se apaixonarem pela cultura amazônica, além de conselhos para que abracem a profissão que amam.


Em seguida, conversei com Enrico di Miceli,  músico, compositor e produtor conhecido pelo seu trabalho na cena musical do Norte do Brasil. Nascido no Pará e radicado no Estado do Amapá, Enrico tem sua carreira marcada pela influência das tradições culturais e sonoras da Amazônia, mesclando elementos regionais com a MPB, incluindo composições com Joãozinho Gomes e Zeca Baleiro no repertório.


Com Enrico, não foi diferente. Testemunhamos a exaltação articulada das belezas locais, o reforço do orgulho em estar em um dos maiores centros de preservação ambiental do mundo, e um anseio de ver o que o povo amapaense tem reservado para o futuro, incluindo em termos de tecnologia.


A cena amapaense de desenvolvimento de jogos e o intercâmbio cultural com o restante do país na Expofeira

Agora que sabíamos que o Amapá era abençoado com uma das culturas mais lindas do país, além de possuir um potencial de crescimento tecnológico imensurável (vide o Norte Brasileiro como polo industrial do Brasil), era hora de partir para o cerne da nossa visita: entender parte de quem eram, e o que incentivava alguns dos desenvolvedores de jogos amapaenses a produzirem jogos.


Foram cerca de 15 entrevistas, horas de materiais produzidos (motivo pelo qual ainda não apresentamos nada na íntegra), cheias de histórias que merecem, e que ainda serão contadas por nós do GDH. Histórias de alunos de desenvolvimento de jogos que estão no início de suas carreiras e buscam na mídia interativa formas de se expressar e alcançar outras pessoas, seja por meio da conscientização ou do lazer, por si só.


Como alguém inserido no ecossistema de desenvolvimento da região Sudeste do país, é perceptível identificar as mazelas do corporativismo que minam muito do que poderia ser visto nos grandes eventos. Falamos sobre isso em coberturas de eventos como a Brasil Game Show e a gamescom latam. Divulgações e contatos com publishers e público, eventos emergentes ou estabelecidos, desenvolvedores tirando dinheiro do próprio bolso para conseguirem apresentar suas obras. A cena independente resiste, persiste e encontra em seus similares o apoio necessário para prosseguir no sonho de desenvolver jogos. É extremamente preocupante que, no próprio estado de São Paulo, que se considera detentor das "maiores oportunidades", essa resistência ainda precise ser tão necessária. Que dirá nos lugares mais remotos do Brasil, como o Amapá!


Mas o que vimos foi de brilhar os olhos. Embora fôssemos poucos em um pequeno espaço da Expofeira, aproximadamente 20 pessoas, todos estávamos ali com local e alimentação custeados, além de sermos remunerados. Jornalista, editor, desenvolvedores de jogos, expositores, monitores... Fomos vistos para além do produto ou do que poderíamos fazer e oferecer. Havia um interesse genuíno do público que passava pelo estande em saber quem eram os desenvolvedores e quais suas motivações, indo além do mercado final que consumiria seus jogos no futuro, mas sem abrir mão da diversão que os títulos proporcionavam.


Cada entrevista realizada me deixava mais confiante de que, para além do início, havia a intenção e o sonho. Ouvimos cada um dos meninos e meninas integrantes do curso de desenvolvimento de jogos da Faculdade META de Macapá, que estavam presentes na Expofeira. Perguntamos quem eles eram, suas funções nos jogos que estavam sendo expostos, suas referências e bagagens, o quanto era importante para eles estarem ali mostrando suas obras para o público e como imaginavam que o cenário amapaense poderia crescer no futuro.


Estamos muito ansiosos para que vocês vejam o que estamos produzindo e se emocionem, assim como nós nos emocionamos durante os intensos 11 dias de feira.


Além dos estudantes, também entrevistamos três desenvolvedores do GDH que foram convidados a participar da feira para promover, além de seus jogos, um intercâmbio cultural com trocas de experiências. Para eles, fizemos as mesmas perguntas, com adições sobre como foi estar em um evento tão diferente do que estamos acostumados, a importância de estar ali, como foram impactados e como acreditavam que poderiam influenciar positivamente os desenvolvedores amapaenses.


Os jogos da comunidade do GDH que estavam sendo expostos e seus representantes eram Heavenstrafer (O Culto - Lani), Heartrender (Dronaroid - Lalla) e Monotonia (GDH Studio - Gabão).


A seguir, você confere alguns dos jogos amapaenses disponibilizados na feira, que selecionei com muito carinho e que merecem destaque neste texto.


Team Squad


Team Squad é um jogo single-player de plataforma em que você tem que controlar 4 personagens com características diferentes. Cada um deles faz algo diferente como quebrar estruturas, pulo duplo, aumento de velocidade e se proteger de espinhos. O level design é altamente perspicaz e exige do jogador pensamentos rápidos para trocar entre os personagens e resolver os quebra-cabeças. Destaque para a animação complexa e lindíssima.


Goblin Quest


Goblin Quest vem de uma linha de jogos que eu particularmente adoro, apelidada carinhosamente de "coop de sofá". No jogo, você e mais uma pessoa deve controlar seus respectivos personagens para resolver os desafios de cada fase, lembrando muito jogos como Bread & Fred e o famosíssimo jogo de browser Fire and Water. Rendeu muitos momentos divertidos e esperamos muito ver a versão final no futuro.


Wild Fate


Wild Fate é baseado em jogos endless runner, mas ao invés de uma corrida infinita, o jogo é dividido em fases, em que você controla um filhotinho de urso que deve escapar de um caçador enquanto corre pela floresta. Extremamente divertido e desafiador na mesma proporção, Wild Fate desenvolve com leveza a temática de preservação ambiental.


Bônus: entrevistas com mais artistas
Gabriel Hyliano e Pabllo Vittar

Para além de tudo o que queríamos e tínhamos em mente produzir, estar em contato com a SECULT nos proporcionou momentos maravilhosos como (simplesmente) entrevistar a Pabllo Vittar e o duo DubDogz de DJs. Com a Pabllo, conversamos rapidamente sobre representatividade LGBTQIAP+ e lugar seguro nas comunidades gamers (clique aqui para ver a entrevista), enquanto com DubDogz falamos sobre a relação dos irmãos com videogames, franquias favoritas e músicas inspiradas em jogos. Uma experiência inesquecível e que serviu de muito aprendizado em nossa produção de conteúdo!



Um até breve, e com gosto de muito trabalho pela frente

Estar no Amapá foi, com toda certeza, a minha experiência mais íntima, apaixonante e ressignificante do que é ser um Jornalista de Jogos. Doeu voltar, porque para além do mercado, do entretenimento e do consumo, existem pessoas que não conhecemos e que estão tateando o sistema em busca de se posicionarem entre os seus conterrâneos. Vocês ouvirão as suas histórias através de nós.


Queremos que o Amapá esteja intrínseco ao GDH de maneira que cada um dos que conhecemos por lá, e que ainda vamos conhecer, encontrem em nossa comunidade uma casa para conhecimento, fomentação de sonhos e apoio nessa jornada. Voltamos com a certeza de que temos muito trabalho pela frente em busca de trazer reconhecimento para cada um dos desenvolvedores, não só amapaenses, mas de outras regiões que se encontram ofuscadas. Fazemos desse texto o mais sincero "até breve".


Também gostaríamos de agradecer, do fundo dos nossos corações, ao Nando Luís, por literalmente ter aberto sua casa para nos acolher, e ao Leonardo Ferreira, por todo o trabalho com os seus alunos. Vocês são exemplos muito maiores do que podem imaginar, e o GDH não seria o que é sem vocês por perto.


Por fim, agradecemos à Secretaria de Cultura do Estado do Amapá (SECULT), Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia (SETEC) e a Federação Amapaense de Esportes Eletrônicos (FEAPEE) por terem confiado em nosso trabalho.



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