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Brasil Game Show 2025 — Entrevista com os Desenvolvedores de Tupi: The Legend of Arariboia!

A equipe da Mito Games na BGS 2025
A equipe da Mito Games na BGS 2025

Na Brasil Game Show, temos a chance de nos conectar com o mundo todo, conhecendo jogos e vivenciando experiências que atravessam fronteiras. Mas, com a Mito Games, a imersão foi diferente: uma conexão com as raízes do Brasil, explorando a cultura do Espírito Santo por meio do jogo Tupi: The Legend of Arariboia.


O game se trata de um RPG de turno roguelite com elementos de Monster Tamer, inspirado em títulos como Shin Megami Tensei e Persona, mas também em clássicos modernos como Darkest Dungeon, Hades e Slay the Spire. No papel de Arariboia, um guerreiro Temiminó herdeiro de uma linhagem de líderes, o jogador embarca em uma missão para purificar a floresta de um mal ancestral enquanto protege e guia seu povo.


Depois de conhecer um pouco da proposta e da inspiração por trás de Tupi: The Legend of Arariboia, chegou a hora de mergulhar mais fundo nessa história. Em uma entrevista exclusiva com a Mito Games, os desenvolvedores compartilharam detalhes sobre o processo criativo, os desafios de transformar a cultura em gameplay e a visão que guia o projeto desde o início.


A origem de Tupi: The Legend of Arariboia também está diretamente ligada ao incentivo público. O projeto nasceu a partir da Lei de Incentivo à Cultura Capixaba (LIC), que abriu espaço para que a Mito Games refletisse sobre como unir o universo dos jogos à valorização cultural. Nesse processo, os desenvolvedores se depararam com um debate que ainda é cercado de muita polêmica: seria necessário que um jogo abordasse explicitamente a cultura nacional para ser reconhecido como produto cultural?


“Começou com o projeto da Lei de Incentivo à Cultura Capixaba, então a gente pensou qual tema seria legal pra encaixar com a cultura do nosso estado, cultura brasileira e aplicar. Porque antigamente ainda tinha um certo preconceito com jogos e cultura, que pros jogos serem considerados cultura, ele tinha que falar especificamente de uma cultura nacional ou algo histórico. E não é bem assim, videogame é um produto cultural e ponto”, conta Rafael Lontra, um dos desenvolvedores do jogo.


Estande de Tupi: The Legend of Arariboia
Estande de Tupi: The Legend of Arariboia

Em Tupi: The Legend of Arariboia, o diferencial está em como a arte é apresentada: mesmo que o jogador não busque aprender história ou tradições, ele acaba absorvendo esses elementos de forma natural, porque estão inseridos no próprio universo do jogo. A pesquisa para criar o game foi um dos pontos mais cuidadosos do desenvolvimento. A equipe de desenvolvedores queria uma representação que fosse atraente para diferentes públicos, dentro e fora do Brasil. 


“Ah, eu sempre fui meio ligado nesse quesito, porque eu escrevia contos sobre folclore e essas questões, e eu acho que o nosso folclore, a nossa cultura ainda não conseguiu furar a bolha pop realmente. A gente está tentando, melhorou bastante ultimamente. Mas eu lembro que o estopim pra mim foi em 2019, quando fui na CCXP e achei um livro de RPG totalmente inspirado no nosso folclore, A Bandeira do Elefante e da Arara, e quem estava fazendo era um suíço. Aí eu falei: ‘Pô, sério? Teve que vir um cara lá de fora pra escrever sobre isso?’ Então a gente falou: ‘Vamos realmente trazer isso pro nosso game’".


"E aí veio a pesquisa. Arariboia é um personagem histórico que realmente existiu. Então, eu que estou fazendo a narrativa junto com a equipe, passamos meses estudando. Compramos livros, lemos a bibliografia inteira, inclusive o livro Arariboia: O Indígena que Mudou a História do Brasil. Pesquisamos tanto a parte histórica para construir a nossa narrativa quanto os espíritos do nosso folclore, estudando justamente o que é o folclore e como representá-lo.", explica Leon Zigoni, diretor do game.


"Queremos trazer esse design que qualquer pessoa de fora consiga olhar e se interessar. A nossa defesa foi: quando a gente joga Persona ou Shingeki no Kyojin, primeiro a gente se atrai pelo design dos personagens, que vêm de uma cultura japonesa, e só depois vai conhecer mais sobre aquela cultura. É isso que queremos trazer, não só para o Brasil, mas também para fora. Quando o Lontra foi ao Japão e mostrou o jogo, a galera gostou do design e aí foi atrás para entender o que era aquele personagem e conhecer um pouco mais da nossa cultura”



Estande de Tupi: The Legend of Arariboia
Estande de Tupi: The Legend of Arariboia

E quando falamos de escolhas de personagens, falamos de uma história à parte. A decisão de ter como protagonista o Arariboia vem carregada de significados culturais e linguísticos que a equipe fez questão de pesquisar a fundo. O time mergulhou em entrevistas, etimologia e até no design dos personagens para transformar essas referências em elementos visuais e narrativos dentro do jogo.


“Legal. Então, estudando, tem até alguns mitos e lendas que são disseminados de maneira errada, como a ideia de que Araribóia significaria ‘cobra da tempestade’. Mas pesquisando fontes históricas, inclusive em uma entrevista que fizemos com o autor da biografia dele, vimos que não era bem assim. Em etimologia, Araribóia vem de Arari (arara) e Bóia (cobra), em Tupi. Quando os indígenas realizavam rituais de transformação em homens, escolhiam nomes de animais ferozes. A cobra-arara, de fato, é uma cobra verde e amarela, bem brasileira, que vivia nas árvores e mordia o pescoço das pessoas que passavam. Então ele escolhe esse nome para que as outras aldeias temessem o guerreiro que havia se tornado.", explica Zigoni.


"Até no design trouxemos isso: no cinto dele há a figura de uma serpente. A aldeia dele, dos Macarajás, o Macarajá era um gato-do-mato, como a jaguatirica, também foi incorporada, com o uso de uma pele de jaguatirica no visual. Assim, a nomenclatura e os nomes Tupi se transformam em parte do design e da narrativa. E, estudando o Tupi, percebemos quantas palavras do nosso dia a dia têm origem nessa língua sem que a gente sequer saiba. Esse processo foi muito legal, e queremos trazer isso para o jogo também”.


Para encerrar a entrevista, trazemos aqui um pequeno spoiler sobre os inimigos que os jogadores enfrentarão em Tupi: The Legend of Arariboia. Sabe quando você tem aquela curiosidade de saber mais sobre o inimigo favorito do desenvolvedor de um jogo? O Leon Zigoni contou pra gente qual o seu favorito!


“O vilão que a gente já apresentou é o Tau. Ele é o espírito do mal criado por Tupã, essa força sombria que está corrompendo a floresta. É um personagem jocoso, que sabe: ‘Eu sou o mal, vou corromper a humanidade’. Ele é paciente, não é aquele vilão nervoso. Ele fala: ‘A qualquer momento, em qualquer dia, a humanidade vai se render à minha corrupção’. E o papel do Pajé junto ao Arariboia é justamente lutar contra essa tentação. Por isso, o Tau foi o mais legal de trabalhar, por esse ar jocoso que ele traz ao game. E aí, um spoiler: mais pra frente, que nem está na demo ainda, vamos apresentar os filhos de Tau. Ele tem sete criaturas mitológicas monstruosas, que vão aparecer durante as runs para atrapalhar o jogador. Esses sete filhos são um dos pontos que queremos explorar com bastante cuidado”, comenta Zigoni.


E para quem já está ansioso, a boa notícia é que a demo já está disponível na Steam e, até dezembro deste ano, também chegará aos consoles PlayStation, Xbox e Nintendo Switch. O lançamento completo, no entanto, ainda vai exigir paciência: a previsão da Mito Games é para 2027. Até lá, a demo promete manter o público curioso e com gostinho de quero mais.



Entrevista realizada e redigida por Iara Vilela e editado por Júlia F. Cândida.



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