Há quase dez anos atrás, a Jackbox Games lançou seu primeiro pacote de jogos iniciando a franquia do “The Jackbox Party Pack” e que seguiu sendo lançada anualmente. Nesse momento, a empresa já havia se afastado de suas raízes educacionais para desenvolver variados tipos de party games destinados a todos os públicos. É curioso que em seu décimo ano, no momento que deveríamos ter recebido o décimo primeiro pacote, algo curioso aconteceu: recebemos o “The Jackbox Naughty Pack”, uma coleção menor (três jogos no lugar dos cinco que um pacote normal recebe), mas para um público específico: adultos.
Porém não é de todo inesperado. Não só pelo sucesso que a série já faz com esse público, mas pelo histórico recente da empresa que parece buscar renovação. Por exemplo, para além de outras línguas, é o terceiro lançamento que inclui uma localização completa em português brasileiro. É natural, então, que Jackbox Games faça testes em novos âmbitos que não sejam o do público-alvo inicial.
Com toda certeza é uma decisão que vai frustrar fãs de longa data que esperavam um pacote completo. E não só isso, haverá a frustração por receber um pacote com um humor mais específico que pode ser encarado como pueril pela temática e fazer com que grupos nos quais você jogava Jackbox antes se tornem inapropriados para a jogatina - provavelmente você não vai querer jogar com sua avó que canta na igreja todo domingo.
Felizmente, essa não foi a minha experiência. Nem na expectativa como fã de longa data que joga religiosamente todos os pacotes assim que lançam, nem jogando de fato quando recebemos a chave. É verdade que - mais do que nunca - é uma coletânea com jogos que vão pedir por uma certa química e intimidade entre os membros do grupo. No entanto, se há essa conexão, é quase certo que será uma jogatina hilária em qualquer um dos três jogos contidos.
O VELHO, O VELHO-NOVO E O NOVO-VELHO
Os jogos são: “Dirty Drawful”, “Fakin’ it All Night Long”, e “Let Me Finish”. Para os mais próximos da franquia, vão reconhecer que dois desses jogos são na verdade versões novas de jogos já conhecidos, sendo o último o único jogo original do pacote. O que pode ser decepcionante, pois a novidade é sempre muito bem-vinda se tratando desse tipo de jogo, ainda mais numa série de jogos que está para fazer uma década de existência e já tem o hábito recorrente de lançar novas versões de sucessos antigos.
No entanto, se me decepcionei, foi mais por um desses jogos antigos ter sido “Drawful”. Nunca fui fã dos jogos de desenho e não acho que essa versão oferece nada de muito interessante contra os ótimos jogos de desenho já feitos dentro da história da empresa, feito um “Tee K.O” (recentemente relançado no Jackbox Party Starter).
Os melhores jogos normalmente trazem alguma tirada no conceito ou em twists dentro da duração do jogo, mas o Drawful é apenas mais um jogo de desenho, só que dessa vez te encoraja a desenhar pintos - como se encorajar fosse necessário. Claro, é divertido, contudo é o jogo que se satisfaz na sua própria mediocridade e sua maior qualidade é a coruja coxuda que dança pole dance no lobby.
Indo para o “Fakin’ it All Night Long” temos nossa grande estrela. Não só pela qualidade e a criatividade em que ele usa a premissa de ser um jogo para o público adulto para criar um ótimo jogo de dedução social, mas também pelas atualizações de qualidade de vida que ele trouxe para o jogo original.
Sua primeira versão apareceu no Jackbox Party 3 no longínquo ano de 2016 quando a série não havia ainda se consolidado como uma atividade em grupo muito bacana para se fazer remotamente por Discord (algo que a Pandemia deve ter ajudado muito a popularizar). E, o “Fakin’ it” é um dos poucos jogos muito difíceis de se jogar à distância por precisar que os jogadores se comuniquem levantando as mãos.
Agora não. Nativamente, essa nova versão vem com dois modos de jogo, um para se você está jogando face a face e outro no caso da sessão ser remota. Como sempre tive o hábito de jogar remotamente, foi uma surpresa muito bem-vinda ao jogá-lo pela primeira vez. E não foi a última. Jogamos esse modo incontáveis vezes e é o jogo que vale a compra do pacote inteiro. Se você tem aquele grupo de amigos com uma boa intimidade, é uma oportunidade indispensável para conhecê-los mais ainda.
Conhecer como? É um jogo de dedução social onde todas as atividades consistem nas pessoas revelarem coisas sobre si ou opiniões que possuem - só que quase 100% dos assuntos vão estar relacionados a temas sexuais. Porém sempre terá uma pessoa que responderá sem saber sobre o que está respondendo. E os outros jogadores devem votar ao final de cada round para encontrar esse “impostor”.
Você, então, vai ter que decidir se acredita na pessoa ao seu lado - figurativamente ou não - quando ela diz que cinco ou mais animais de estimação diferentes já a presenciaram transar. Em qual outra situação você teria a oportunidade de saber essa informação completamente essencial? Essa é toda magia que esse novo pacote oferece e que eu espero que se repita futuramente em novos jogos da série.
Por último, temos o jogo dito “original”. É um novo nome, de fato, porém ainda mantém muita semelhança com outros jogos do estilo de “apresentação” que ele utiliza como o “Patently Stupid” do Party Pack 5. E, semelhante ao “Drawful”, não traz uma novidade tão interessante ao formato, mas garante a diversão pela estupidez do conteúdo das apresentações.
CONCLUSÃO
Apesar de não ser o melhor pacote produzido pela Jackbox Games, essa nova coletânea entrega muita diversão e trouxe um dos jogos que já está entre meus três jogos favoritos da franquia e que, com certeza, jogarei com diversos grupos de amigos nos anos por vir. Ainda mais por trazer uma ótima localização em português brasileiro que fornece uma acessibilidade essencial para esse tipo de jogo.
No entanto, levando em conta a recepção morna dos últimos lançamentos da empresa e considerando que esse pacote tem tudo para ser extremamente divisivo, temo pela empresa acabar por ceder e se fechar novamente no formato anterior de não ousar sair de um molde mais comportado que é o esperado de uma empresa que começou com jogos educacionais e depois seguiu para jogos voltados à toda família.
Texto editado e revisado por Gabriel Morais de Oliveira (@GabrielHyliano).
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